ATMAVICTU
sopro de vida

O espetáculo começa marcado por um não-tempo, onde um homem e uma mulher se veem forçados a estabelecer uma relação.

A existência humana torna-se uma corrida contra a inevitabilidade, que é o passar do tempo. Vivemos por ele condicionados ao ponto de o tentarmos manipular para, desta forma, poder ordená-lo e iludir-nos de que a existência está assegurada, ou mais precisamente: controlada.

E se fosse possível a não-existência desse tempo?

É desta forma que ATMAVICTU explora esta possibilidade e por isso cria um espaço, também ele limitado, mas desta vez pelo não-tempo, a não-hora. Será o tempo que encerra o espetáculo um alerta para a necessidade de acreditarmos na nossa vontade e prosseguir com as nossas escolhas; de não recear cometer erros e simplesmente agir, sem medo do tempo que nos assombra a cada sopro de vida.

sobre o espetáculo

A tradução de ATMAVICTU, palavra inventada pelo psicoterapeuta Carl Yung, é sopro, ou respiro de vida. A peça começa exatamente com alguém que canta uma canção, que lhe foi cantada na sua infância em momentos que antecediam o sono. Uma passagem da vida para o sonho – é isto que acontece em ATMAVICTU, estamos perante um espaço que não está localizado geograficamente e que nem sequer tem um tempo. 

Alguém que encontra outro alguém, mas por desconhecer a sua própria identidade torna-se inadequado face à presença do outro. As personagens são o Homem e a Mulher, e não são o Miguel e a Helena; não por tratar de explorar o que significa ser homem e mulher, mas sim o que significa a relação com o outro. Uma relação sui generis, feita de ações que os dois vão criando, não para passar o tempo, mas sim porque é a forma que encontram para relacionar-se, e é desta forma que divagam sobre o amor; sobre a possibilidade de uma revolução; sobre o planeta Marte e a criação do universo; sobre a origem da palavra orquídea. 

No final, que é também o início, descobrimos que tudo o que está para trás foi uma ficção; haveria a possibilidade de acontecer, mas por fatores internos a ambos, deixaram escapar um pedaço de tempo que nunca se materializou. A peça é um grito de alerta para a condição humana. Para a importância que algumas decisões têm e, sobretudo a inação como forma da não-relação, que assim permeia o não-presencial.

© Estelle Valente

imprensa

O Bestiário nasceu oficialmente em 2018 pelas mãos de Afonso Viriato, Helena Caldeira, Miguel Ponte e Teresa Vaz. Um conjunto de vontades reuniu-se com a ambição de fazer teatro, e nele incorporar as ciências. Já trabalham na sua segunda criação, “Umbra” mas, entretanto, voltam a apresentar a primeira, “Atmavictu”, na Escola de Mulheres.

Neste espectáculo, que viaja entre o sonho e a realidade, estão presentes três temas: o amor, a revolução, e a vida em Marte. Estes mundos entrecruzam-se, tocam-se, e logo se afastam, em jogos que têm algo de experimentação, mas também algo de bem estruturado. E estes dois aparentes opostos convivem bem.

O dispositivo cénico é original. O público, sentado a toda a volta da cena, tem detrás um longo plástico fino, que delimita o espaço. No centro, também plastificado, apenas um balde, um alguidar e um regador. E a presença de duas figuras humanas que ora dialogam, ora se afastam, ora se juntam num beijo infinito.

As interpretações de Helena Caldeira e Miguel Ponte são sólidas, destacando-se a sua enorme fisicalidade, e a aparente leveza com que entregam o texto, mesmo depois de intenso trabalho corporal.

Atmavictu tem textos e direção artística de Teresa Vaz, e apoio à direção artística de Afonso Viriato, os dois outros membros do colectivo.

Esta é, pois, uma auspiciosa estreia do Bestiário, e um nome a ter em radar, no que de novo se faz no teatro em Portugal. Espera-se com muito interesse a sua segunda criação.

PS – Não percam a folha de sala, onde ficarão a saber como cuidar de uma orquídea.

Crítica de Pedro Mendes in contraCenas

 
 

Selecionado como um dos 20 espetáculos de 2018
para a Comunidade Cultura e Arte

 

Entrevista para a plataforma CoffeePaste

percurso

 

Próximas datas
Um Coletivo
Março 2021
Cine-Teatro de Elvas, Elvas

Estreia
Ciclo Try Better Fail Better ’18
27 a 29 de Abril 2018
Teatro da Garagem, Teatro Taborda, Lisboa

Reposições
Escola de Mulheres
29 de Novembro a 2 de Dezembro de 2018
Clube Estefânia, Lisboa

Ciclo VAGA – Mostra de Artes e Ideias
16 de Fevereiro 2019
Teatro do Bolhão, Porto

Residência Artística
Abril 2017 a Abril de 2018
Teatro da Garagem, Teatro Taborda

ficha técnica e artística

1ª criação

 

direção artística e encenação Teresa Vaz

texto Teresa Vaz

assistência de encenação Afonso Viriato

interpretação Helena Caldeira e Miguel Ponte

cenografia e figurinos Bruna Mendes

desenho de luz Bestiário

fotografia Estelle Valente

produção Bestiário e Diana Almeida

assistência de produção Francisco Leone

cartaz Bruna Mendes

agradecimentos Maria João Vicente, Carolina Mano, Mariana Guarda, Sérgio Loureiro, João Belo, Cláudia Pereira
apoios Teatro da Garagem, Gerador


M/12

60min.

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